O caso de racismo sofrido pelo artista plástico Décio Davi demonstra uma das inúmeras facetas do nosso racismo cordial: a ignorância como forma de exclusão. As denúncias publicadas no jornal Notícias do Dia em 14 e 15 de outubro, intituladas A Maricota negra fora da festa e Criação sem limites descrevem o constrangimento sofrido pelo artista que fora obrigado a pintar de branco uma Maricota negra, durante a 16ª Feira da Cultura Açoriana (Açor), ocorrido em Palhoça. A ordem para tal ação teria partido de Joi Cletison, historiador e coordenador da feira. O negro, em sua visão não apresenta relação com a cultura açoriana, justificando assim descabida ordem impositiva. Talvez, seja o caso de elencar alguns pontos históricos acerca do tema. Primeiro, sabemos que “tradição” é uma categoria inventada socialmente, segundo afirma Eric Hobsbawm em A invensão das tradições. É possivél que alguns desconheçam a história da criação do açoariano como elemento positivo da cultura catarinense, fato ocorrido durante o 1° congresso de cultura catarinense, 1948. Todavia, isso não significou a omissão do negro na cultura local, sendo que parte das esculturas de Franklin Cascaes traz o negro na condição de sujeito cultural, como demostrado no livro de Patricia de Freitas. A troca cultural entre os povos, ao longo dos milenios é uma constante, ainda mais quando analisamos o Arquipelágo de Açores, localizado nas proximidades da rota maritma entre Portugual e Marrocos. Afirmar que o africano não possui influência cultural nesta região é desconhecer, no minímo, a história Ibérica e a do norte de África. A leitura do livro de José Ramos Tinhorão, O negro em Portugal, torna-se relevante. Não se busca aqui regeitar ou omitir as indissiocrácias da cultura açoriana, porém negar a contribuição negra na cultura brasileira de ontem e de hoje denota desconhecimento histórico e em outros casos racismo esplícito. Existem formas de se evitar a repetição de episódios como este; a realização de estudos sobre a presença do negro na cultura açoriana, formação para educadores e servidores públicos, aliado a aplicação da lei federal 10.369/03, tornam-se urgêntes.
Artigo publicado no jornal Notícias do Dia, em 03 de novembro de 2009
Um comentário:
O racismo a brasileira é tão descabido e esta nas entranhas, apenas reeducando as pessoas e revertendo velhos hábitos e conceitos conseguiremos nos libertar desse mal nos persegue há séculos.
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