domingo, 22 de novembro de 2009

Racismo e violência na novela das oito

Abaixo, transcrevo artigo que problematiza cenas de violência, submissão induzindo práticas preconceituosas e racistas.







Os dias de glamour da primeira Helena negra foram poucos. No capítulo de ontem (16/11/09), numa cena que fazia uma alusão direta à noção de soberania branca, a personagem negra se ajoelha aos pés da mulher branca e pede perdão. Após isso, dotada de toda autoridade, a "mãe branca e zelosa" dirige um violento tapa na cara na personagem negra que resignadamente aceita a punição. A cena chocou diversas pessoas. No caso particular das mulheres negras, todas se recusaram a se reconhecer daquela forma e se revoltam contra aquela atitude submissa e passiva diante da violência racial. Aquela cena teve uma repercussão desastrosa em cada uma de nós. A postura submissa da Helena negra vai contra a forma como hoje, e sempre, reagimos à violência racial e ao autoritarismo, seja pelo amparo da lei, seja impondo respeito diante daquele ou daquela que insiste em rememorar os tempos da escravidão, cobrando de nós o eterno deferimento e subserviência. Assim, a trama da novela vai contra a política e debates atuais que visam a igualdade de direitos e a postura autônoma que praticamos no nosso cotidiano e ensinamos a nossas jovens e crianças negras. A cena de ontem também vai contra os argumentos daqueles que se negam a admitir a existência do racismo no Brasil, que se afirma no imaginário do autor. O capítulo de ontem, por si só, fala da insistente crueldade da elite brasileira de negar o problema do racismo ao mesmo tempo em que, de maneira nefasta, não abre mão de se manter numa posição privilegiada. A Helena negra é culpada por ter abortado, por ter casado com um homem branco e por não ter "cuidado" devidamente da enteada, numa relação que muito nos lembra mucama e sinhazinha. Não só Helena, mas também a personagem da atriz Sheron Menezes tem a mesmo postura submissa, que paga (literalmente)um alto preço para estar com um homem branco. Ambas sucumbem diante da supremacia branca retratada na televisão brasileira, ambas não tem dignidade e não representam a luta cotidiana dos homens e mulheres negras que diariamente enfrentam o racismo neste país. Ao que me parece, é muito difícil para a dramaturgia brasileira esconder este ranço ordinário da mentalidade escravocrata e racista.



Luciana Brito Movimento Negro Unificado-Bahia
Mestre em História

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

20 de novembro agora é feriado


É de autoria do Vereador Márcio de Souza (PT), o projeto de lei n° 12.166/2006 que institui o dia 20 de novembro como feriado municipal. A referida lei foi aprovada hoje (09/11/2009) na Câmara de Vereadores de Florianópolis, por unanimidade, fazendo vibrar seleta platéia representante de segmentos culturais e políticos da comunidade negra local. O dia 20 de novembro, alvo da lei, homenageia a luta de Zumbi dos Palmares, líder do famoso Quilombo dos Palmares, assassinado em 1695 na Serra da Barriga, Estado de Alagoas. Morreu o homem, ficou a ideologia! Passados mais de 300 anos de sua morte, enfim, o Estado brasileiro começa a reconhecer a importância dessa luta contra a escravidão e, que hoje é resignificada em cada brasileiro na busca por melhores condições de vida. Atualmente, 306 municípios brasileiros já decretam o dia da consciência negra como feriado, em cujo dia são promovidas diversas ações sociais em prol da cultura de matriz africana. Florianópolis, berço de importantes nomes da nossa cultura, a exemplo de Cruz e Souza, Antonieta de Barros, Ildefonso Juvenal, Trajano Margarida, Neide Maria Rosa, Valda Costa entre outros, não poderia ficar de fora dessa grande campanha popular. Feliz do povo que pode guardar na memória os feitos de seus antepassados, e mais feliz ainda é o povo que ao lutar, dançar e rezar revive no corpo a memória de sua história.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Racismo Cordial

O caso de racismo sofrido pelo artista plástico Décio Davi demonstra uma das inúmeras facetas do nosso racismo cordial: a ignorância como forma de exclusão. As denúncias publicadas no jornal Notícias do Dia em 14 e 15 de outubro, intituladas A Maricota negra fora da festa e Criação sem limites descrevem o constrangimento sofrido pelo artista que fora obrigado a pintar de branco uma Maricota negra, durante a 16ª Feira da Cultura Açoriana (Açor), ocorrido em Palhoça. A ordem para tal ação teria partido de Joi Cletison, historiador e coordenador da feira. O negro, em sua visão não apresenta relação com a cultura açoriana, justificando assim descabida ordem impositiva. Talvez, seja o caso de elencar alguns pontos históricos acerca do tema. Primeiro, sabemos que “tradição” é uma categoria inventada socialmente, segundo afirma Eric Hobsbawm em A invensão das tradições. É possivél que alguns desconheçam a história da criação do açoariano como elemento positivo da cultura catarinense, fato ocorrido durante o 1° congresso de cultura catarinense, 1948. Todavia, isso não significou a omissão do negro na cultura local, sendo que parte das esculturas de Franklin Cascaes traz o negro na condição de sujeito cultural, como demostrado no livro de Patricia de Freitas. A troca cultural entre os povos, ao longo dos milenios é uma constante, ainda mais quando analisamos o Arquipelágo de Açores, localizado nas proximidades da rota maritma entre Portugual e Marrocos. Afirmar que o africano não possui influência cultural nesta região é desconhecer, no minímo, a história Ibérica e a do norte de África. A leitura do livro de José Ramos Tinhorão, O negro em Portugal, torna-se relevante. Não se busca aqui regeitar ou omitir as indissiocrácias da cultura açoriana, porém negar a contribuição negra na cultura brasileira de ontem e de hoje denota desconhecimento histórico e em outros casos racismo esplícito. Existem formas de se evitar a repetição de episódios como este; a realização de estudos sobre a presença do negro na cultura açoriana, formação para educadores e servidores públicos, aliado a aplicação da lei federal 10.369/03, tornam-se urgêntes.
Artigo publicado no jornal Notícias do Dia, em 03 de novembro de 2009

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Camisetas de São Jorge



As belas modelos, Fabiane e Dandar, trazem as novas camisetas e baby loock de São Jorge.

Cores: Branco, Preto e vermelho

Tamanhos: P, M, G e GG

Pedidos pelo blog, orkut ou por email (fabiogarciahistoria@hotmail.com)

Intelectuais Negros

Saiu a edição nº10 da revista História Catarina, nela publicamos artigo sobre os intelectuais Ildefonso Juvenal, Antonieta de Barros, Trajano Margarida e João Rosa Júnior. Vale a pena conferir.
Abraços,
Fábio

A venda na livraria livros & livros (centro e UFSC).