O assunto cotas continua em alta. Agora é a vez da UDESC (Universidade Estadual de Santa Catarina), realizar o seu sistema de ação afirmativa. No entanto, algumas pessoas ainda desconhecem o funcionamento deste tipo de política pública e acabam ficando contra estas ações. O texto abaixo visa indagar o leitor acerca de seu conhecimento sobre a (afro) história catarinense. Muitos admiram o poeta Cruz e Sousa, mas caso ele estivesse vivo e defendesse o sistema de cotas, seria ele tão elogiado? O texto também pode ser lido no site: www.agecom.ufsc.br/downloads/Jornal_Universitario_UFSC_n388_032008.pdf e no link do jornal An Notícias: www.an.com.br/2008/fev/04/0opi.jsp. Boa leitura!

No caso do poeta Cruz e Sousa, seu mérito intelectual pouco foi reconhecido neste Estado. O poeta de "Missais" lutou contra a escravidão e o preconceito racial, atraindo em vida a inveja e as intrigas de seus opositores; Ildefonso Juvenal, por sua vez, ao lutar contra o racismo de sua época, ajudou a construir cursos de alfabetização, associações negras, jornais literários e até um centro de letras, devido ao impedimento de se ter negros na Academia Catarinense de Letras; no ano de 1918, no município de Lages,
era criado o Centro Cívico e Recreativo Cruz e Sousa; em 1920, em Itajaí, fundou-se o Clube de Regatas Cruz e Sousa; em 1915, em Florianópolis, criou-se a Associação dos Homens de Cor. Em todas estas ações buscou-se um único objetivo: lutar contra as
diversas formas do racismo brasileiro. Lá se vão mais de 90 anos de luta!
Ao se polemizar o sistema de cotas para negros nas universidades, devia-se polemizar também a morte de cada jovem negro pela falta de oportunidades, pelos grupos de extermínio, pela fome ou pelo único fato de terem a cor da pele negra. Vamos polemizar a falta de expectativa social. Se o sistema de cotas incomoda, agride-nos muito mais saber que 46% da população brasileira, por serem negros, não participam dos postos de comando deste País. Não nascemos para ser caso de polícia nem tampouco assistir a tudo de panelas à mão.
Perguntar não ofende: os leitores e admiradores de Cruz e Sousa iriam apoiá-lo caso defendesse os interesses da população negra nos dias de hoje?
Fábio Garcia
Historiador, educador e militante do Movimento Negro